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Dois bancos centrais marcaram reuniões para definir a taxa de juros na semana passada.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED) aumentou a taxa básica em 0,5 ponto porcentual (p.p.), que, agora, transita entre 0,5% e 0,75%.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou o índice em mais um 1 p.p., passando de 11,75% para 12,75%. Foi a décima elevação seguida após o piso de 2% durante o ponto mais recessivo da pandemia.
Ambas as autoridades monetárias estão em situações diferentes.
O aumento de 0,5% na taxa norte-americana não surpreendeu o mercado, e esta foi a pior parte. O banco central daquele país continua completamente fora de sintonia com a economia.
Na última sexta-feira (6), mais 428 mil novos empregos foram adicionados ao mercado de trabalho americano, totalizando 6,6 milhões de novas vagas líquidas nos últimos 12 meses.
Vale lembrar que o próprio FED, em um de seus comunicados, afirmou que existe uma vaga e meia de emprego aberta para cada estadunidense desempregado e, em setores como os de hotelaria e de restaurantes, é frequente ver placas de serviços limitados por falta de mão de obra.
É neste cenário que, além de aumentar apenas 0,5 p.p. na taxa de juros, o FED afirmou que o programa de venda de ativos – que consiste em trocar dinheiro da população por títulos e ações que estejam nos ativos do banco, para diminuir o dinheiro em circulação – será de apenas US$ 47,5 bilhões por mês, nos próximos três meses, só atingindo US$ 90 bilhões no quarto mês de execução.
Vale lembrar que o ativo do FED tem mais de US$ 9 trilhões para serem ajustados.
Todos estes fatores levaram o mercado a um movimento curioso: depois de subir mais de 3%, logo após a decisão sobre os juros, a Nasdaq caiu mais de 6%, após a análise do comunicado.
Além disso, dizemos que o FED está behind the curve, ou seja, o mercado está elevando os juros privados bem antes, pois acredita que o banco terá de subir os juros de forma mais rápida e intensa no futuro, dada a sua ação mais frouxa agora.
Só para efeitos de comparação, os juros imobiliários básicos nos Estados Unidos já estão em 5,27% ao ano (a.a.) – o maior desde 2009 –, e os juros do título de três anos do governo norte-americano já batem 3,2% a.a. Sinais de que o mercado está tomando as rédeas do cenário e desacreditando o trabalho da autoridade monetária.
No Brasil, apesar da crítica de alguns economistas pela demora da velocidade de ajuste, o Banco Central (Bacen) já vem trabalhando há mais tempo e com mais intensidade na direção de uma política contracionista.
Neste momento, dez aumentos consecutivos levaram a taxa básica de juros de 2% para 12,75% a.a., movimento que deve continuar nas próximas reuniões, apesar da declaração do presidente do banco dizendo, em março, que o ciclo poderia ser finalizado em maio.
A estrutura da inflação no Brasil, com quase 80% de difusão (porcentagem dos produtos que sofreram aumentos de preços no mês pesquisado), demanda uma postura mais agressiva da autoridade monetária, pois o aumento do custo de vida parece ser generalizado, e não apenas fruto de choques específicos de oferta.
De qualquer forma, nos dois países, a inflação assusta. Nos Estados Unidos, a inflação atingiu 8,5% em 12 meses, longe da meta de 2% a.a., fixada pelo FED. Aqui, já temos 11,3% no mesmo período, também muito acima da meta e da banda superior. A diferença é que o Bacen agiu mais rápido e está numa posição melhor para lutar contra a inflação.
Além disso, o alimentador da inflação por aqui (isto é, o mercado de trabalho) não exerce uma pressão tão grande quanto a observada no país da América do Norte.
Assim, na nossa perspectiva, o FED terá muito mais problemas e precisará tomar atitudes muito mais radicais, se não quiser perder a batalha para a inflação.
O cenário mais negativo nos Estados Unidos pede cautela no Brasil, pois, à medida que os juros subirem por lá, testemunharemos a saída de capitais e a depreciação ainda maior do câmbio.
Toda a economia mundial é interligada; e também sofremos com a inércia do FED.
Fonte: Contábeis
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